Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Prosia Saudade (II)

As horas fora em que vagueei pelas alcatifas do trabalho,
Foi o tempo que passou no relógio da minha vida.
Por muito que ande com os ponteiros para trás,
Esses segundos de areia esgueiraram-se na ampulheta partida.

Um sopro, um vento.

Hoje, quando escrevo, espero ansiosamente,
Para tentar ainda ralhar, como se fosse 1995.
Mas não é.

É a saudade.

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Eu fiz um Pacto com a minha língua, o Português, língua de Camões, de Pessoa e de Saramago. Respeito pelo Português (Brasil), mas em desrespeito total pelo Acordo Ortográfico de 90 !!!