Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser É alta, de um louro escuro. Faz bem só pensar em ver Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela estivesse deitada) Dois montinhos que amanhecem Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco Assenta em palmo espalhado Sobre a saliência do flanco Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem qualquer coisa de gomo. Meu Deus, quando é que eu embarco? Ó fome, quando é que eu como?

10-9-1930 - Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) - 123.

domingo, 11 de maio de 2014

Lisboa (XIV) – Torre da antiga SACOR

(In Wikipédia ou em “site” indicado - Todos os excertos das biografias foram adaptados e algumas vezes traduzidos por Ricardo Santos)

História:

Cabo Ruivo, em Lisboa, é a área em torno do Cabeço das Rolas, situada na frente do Tejo, entre a Matinha e Beirolas.
Nesta área estava instalada aqui há uns anos a refinaria Sacor/Petrogal, o Depósito Geral de Material de Guerra, com todas as velharias que combateram na guerra das colónias, em África, e ainda outras indústrias. Existia uma ponte-cais com 300 metros de frente acostável, para servir os petroleiros que abasteciam a refinaria.
Com a construção da Expo 98, actual Parque das Nações que reabilitou esta zona oriental da cidade de Lisboa, a zona de Cabo Ruivo foi intervencionada, fazendo parte do programa ambiental. Era onde se encontrava a Porta Sul, da qual fazia parte integrante a antiga torre de “cracking” da refinaria.
A origem do nome Cabo Ruivo deverá estar relacionada com a cor da colina que domina a área, de tons avermelhados. A sua zona superior (topo) é designada por Cabeço das Rolas.
Se, actualmente, está quase a um quilómetro do Rio Tejo, sobretudo por causa sobretudo de requalificações e terraplanagens de origem humana, houve tempos e até ao século XVIII o rio chegava ao seu sopé (base). Associado à sua localização, na zona onde o rio começa a inflectir norte-sul para este-oeste, esta elevação era de uma marca conspícua para todos os que navegassem no Mar da Palha.

A SACOR foi a primeira empresa petrolífera portuguesa a dominar todo o processo, desde a importação, o transporte, a refinação e a distribuição dos produtos petrolíferos. Foi fundada em 28 de Julho de 1937, por um romeno radicado em França, Martin Saim. Até aos anos 30 do século XX, Portugal era abastecido de produtos petrolíferos importados e de várias empresas estrangeiras como a (Shell, a Vacuum - posteriormente Vacuum-Socony - e a Atlantic). Apesar de em 1933, com a constituição da SONAP (Sociedade Nacional de Petróleos), na qual o governo português detinha 40% do capital, sendo o restante detido por investidores franceses, não houve grande alteração do panorama petrolífero, sobretudo porque nenhuma destas empresas estrangeiras fazia a refinação em Portugal. A necessidade de refinar em Portugal o petróleo está directamente ligada à elaboração do Decreto-Lei Nº. 1947, de 12 Fevereiro de 1937, conhecido como "A Lei dos Petróleos", que complementado pela Lei Nº. 1965, de 17 de Maio do mesmo ano (Lei do Condicionamento Industrial). Com essas duas Leis são criadas as condições, e o enquadramento legal, para a criação de uma empresa petrolífera que se foi apelidada de SACOR.
A SACOR escolheu Cabo Ruivo, na zona oriental de Lisboa, e que era tradicionalmente a zona industrial da capital, para instalar a sua refinaria, que foi oficialmente inaugurada a 11 de Novembro de 1940. Face à Segunda Guerra Mundial, e às limitações tanto para a exportação, como para o transporte por via marítima, condicionou que a nova refinaria atingisse o seu potencial de produção que era de 300.000 toneladas/ano. Os problemas com o transporte do petróleo tinham já sido alvo da atenção do estado português, que através do Instituto Português de Combustíveis tinha adquirido quatro petroleiros: o "Gerez", o "Aire", o "Marão" e o "Sameiro". Contudo, estes quatro navios foram insuficientes para garantir as necessidades energéticas portuguesas.
As empresas petrolíferas e o Estado iriam em 13 de Junho de 1947 constituir a SOPONATA para ultrapassar essas dificuldades. A SACOR detinha metade do capital da nova empresa. Terminada a guerra, e ainda pela aplicação da Lei Nº. 1947, a qual favorecia quem refinasse em Portugal, a SACOR foi ter uma posição dominante da distribuição, obtendo do estado metade do mercado.
Em 1953 foi criada a ANGOL, seguida da MOÇACOR em 1957 para a distribuição dos seus produtos, respectivamente, em Angola e Moçambique.
Em 1958 a SACOR introduziu a gasolina super, e criou a GAZCIDLA, para a distribuição do gás butano, e a PROCIDLA, para o propano. Em 1959 a SACOR criou a sua própria empresa de navegação, a SACOR MARITÍMA.
Nos anos que se seguiram à guerra assistiu-se um substancial aumento do parque automóvel, a SACOR criou uma rede de postos de abastecimento por todo o país. Muitos destes postos partilhavam o mesmo desenho, e são ainda hoje facilmente identificados pelo arco que abriga as bombas.
Logo após o 25 de Abril, a empresa foi nacionalizada e integrada na actual GALP. Actualmente subsiste o seu ramo marítimo (SACOR MARÍTIMA SA). A SACOR (actual GALP) foi uma marca querida do povo, lembro-me de cadernetas que se colavam selos das bombas de diferentes localidades tipo passaporte de viagem e variados objectos.

(In Portal dos Clássicos por Francisco Lemos Ferreira, adaptação Ricardo Santos)

Conclusões:

Mais uma vez lamentamos que, e apesar de ser encontrar, geograficamente, dentro da cidade e já, na altura, causasse problemas de poluição ambiental, a SACOR tenha desaparecido do mapa industrial português. Mapa esse que cada se vai esboroando cada vez mais.
Passámos de um país pequeno com indústria que nos dava alguma independência em relação ao exterior para um país completamente dependente do exterior. Somos uma enorme empresa de serviços que vive das respectivas multinacionais que aqui permanecem, enquanto os nossos preços forem competitivos. Infelizmente e nos últimos 15 anos, já estamos a apercebermo-nos cada vez mais que elas estão a fugir para os países subdesenvolvidos, como por exemplo a Índia e alguma da Europa de Leste, Roménia, Bulgária, Polónia.
Seria preciso muita força e vontade para mudar o panorama português. Primeiro acabarmos com a corrupção, e depois colocarmos à frente, os competentes (eles andam por aí !), para governar, decentemente, este barco.
Os que vieram depois do 25 de Abril e garanto-vos não ser saudosista, nunca o fui, estão mais preocupados em encher os bolsos, do que fazerem algo de concreto e positivo por todos nós que, pelo menos uma vez na história foi dos povos mais importantes do Mundo.

Em relação às fotos, não eram somente estas que queria fotografar. Queria mesmo tirar algumas do cima da Torre, mas o seu acesso ao topo está vedado e proibido, sem autorização da GALP. Fiquei-me pelas imagens a nível do solo. A ideia de tirar fotos numa zona alta do Parque das Nações não foi posta por mim, de parte, e como soy dizer-se “há mais marés que marinheiros !”

Música:

A música que vai acompanhar estas fotos é o tema principal da banda sonora da série americana “Miami Vice”, e não tem nada a ver com elas, aparentemente. No entanto, para mim, este som produzido tem muito a ver com construções metálicas, pelo menos, eu associo-o com isso.
Da autoria de Jan Hammer, nascido a 17 de Abril de 1948, em Praga, na antiga Checoslováquia, hoje fazendo parte da República Checa, é um compositor, pianista e teclista. As suas composições ganharam vários “Grammy”. Ele foi um dos teclistas do agrupamento “Mahavishnu Orchestra”, no início dos anos 70, grupo liderado John MacLaughlin.
Jan Hammer colaborou com inúmeros músicos de topo, para além de John MacLaughlin, falamos de Jeff Back, Al Di Meola, Mick Jagger, Billy Cobham, John Abercombrie, Lenny White, Carlos Santana, Stanley Clark, Neal Schon, Steve Lukather e Elvin Jones, entre outros. Ele compôs e produziu, pelo menos, 14 bandas sonoras originais para filmes, a música para os 90 episódios da série norte-americana “Miami Vice” e dos 20 episódios da popular série britânica “Chancer”.
O seu maior desafio foi sem dúvida, quando os produtores de “Miami Vice” lhe destinaram a feitura da música para esta série, em finais de 1984. Logo em 2 Novembro de 1985, a banda sonora de “Miami Vice” atingiu o primeiro lugar no BillBoard. O álbum vendeu, nos EUA, mais de 4 milhões de cópias e foi quadrúplo-platina.

2 comentários:

  1. Olá Ricardo !
    Em 1962, fiz uma "visita de estudo" a estas instalações ! Na altura não conhecia Lisboa e o aspecto destas instalações (modernas) contrastava imenso com tudo o que a rodeava, absolutamente degradado e degradante ! Aquela zona oriental era mesmo uma autêntica lixeira ! Fiquei com uma péssima ideia da cidade !
    Felizmente que a Expo 98 veio dar uma volta de 180º a esta zona ! .)

    Abraço !
    .

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Rui lembro-me razoavelmente bem dessa época. Junto a Beirolas e eu os meus pais moravam em Moscavide na altura, muito perto, era os despojos da guerra do Ultramar, um autêntico cemitério de equipamentos militares. Junto ao rio o cais onde se juntava toda a espécie de lixo. A Expo98, actualmente, Parque das Nações foi na realidade a prova provada de que os portugueses são um povo empreendedor. Pena não o serem voluntariamente !
      Obrigado e um abraço Rui

      Eliminar

Eu fiz um Pacto com a minha língua, o Português, língua de Camões, de Pessoa e de Saramago. Respeito pelo Português (Brasil), mas em desrespeito total pelo Acordo Ortográfico de 90 !!!